Natalia Candido

CARTA ABERTA A ROBERTO MINCZUK

In Fofoquinhas, Teatros, Uncategorized on April 10, 2011 at 10:20 pm

A carta foi escrita pelo maestro e compositor  Marlos Nobre , sobre o que anda acontecendo com a OSB. Vamos a carta:

Roberto, estou angustiado ao escrever esta carta, ao ver um regente como você envolvido nesta situação constrangedora e triste.

Você, Roberto, não teve ninguém perto de você para lhe abrir os olhos ante a imensa tolice que foi toda esta situação criada na Orquestra Sinfônica Brasileira?

Eu lhe escrevo como um Maestro e compositor que conheceu um Roberto ainda nos seus 10 a 12 anos de idade, participando do Concurso de Jovens Instrumentista que organizei em 1974 nos “Concertos para a Juventude” na Rede Globo e Radio MEC. Nele, você se destacou como jovem talento, promissor o bastante para que eu lhe desse de presente uma trompa novinha em folha (a sua, na época era impraticável). Lembro anos depois, no seu concerto de estréia como regente da OSB no Rio, ter sido procurado pelo seu velho e honrado pai, com lágrimas nos olhos, me dizendo que aquela trompa estava guardada em um invólucro de vidro, emoldurando a sala de estar da sua casa paterna. Foi extremamente comovente então, ver seu pai visivelmente feliz vendo sua estréia como regente titular da grande e prestigiosa Orquestra Sinfônica Brasileira. Entre outras obras você então dirigiu a Sinfonia “Heróica” de Beethoven. E a nossa OSB respondeu à altura aos seus gestos, dando na ocasião uma intepretação memorável da obra. Estes mesmos músicos que agora sofrem com a implacável perseguição e ira absolutamente incompreensíveis de você, como diretor da OSB.

Pois bem, Roberto, assim como seu pai, um velho e honrado músico, eu aprendi que não é possível fazer música senão com o espírito leve, aberto, ligado apenas no dever maior de intérprete que é o de revelar a grande mensagem de amor, compreensão universal e respeito mútuo que emanam de toda grande obra musical. Não é possível aos músicos renderem o máximo de suas qualidades, frente à arrogância, à falta de respeito, à imposição, à desumanidade, à inépcia humana de quem está a lhes impor e não a lhes dar condições de criar a maravilhosa mensagem da Música.

Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior decepção que jamais tive em minha vida. Uma decepão profunda e irreversível .Você, e somente você, é o responsável por uma situação inédita na música sinfônica do Brasil, ao submeter uma orquestra inteira a um vexame público demitindo com requintes de crueldade e desrespeito pelo passado deles, mais da metade de seus componentes através de pretextos os mais inaceitáveis possíveis. Nem o pretexto de maior qualidade musical seriam justificação para um tal elevado grau de agressividade humana, artística e pessoal de que vitimas nossos músicos da OSB. Você não respeita idade, servições prestados, idealismo nem humanidade. Todos estes valores essenciais nas relações humanas e artísticas vão para o ar em suas mãos, neste momento triste da história da música no Brasil.

A destruição dos ideais que sempre foram a grande força da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto, você não conseguirá. Aliás vejo com tristeza que você está conseguindo se destruir de uma maneira tão perfeita, tão definitiva, tão veemente como jamais o maior inimigo seu seria capaz, nem teria tal grau de imaginação destrutiva.

Sua auto-destruição me choca pois me parece que você, Roberto, entrou em tal processo negativo sem volta nem retorno, pois sequer se dá conta que, não só no Brasil, mas em qualquer país do mundo onde você entrar no palco, para dirigir uma orquestra, terá como resposta o desprezo e a desaprovação do público e do mundo musical.

Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada por este remedo de Orquestra Sinfônica (que me recuso a chamar de OSB pois esta foi destruída irresponsavelmente por você), dirigida por você.

Não autorizo nenhuma obra minha tocada senão pela verdadeira ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA que aprendemos a amar, a reverenciar e a proteger, de desmandos de eventuais passageiros da desesperança, da agressão moral e do desrespeito.

MARLOS NOBRE

É com muito pesar que estou divulgando toda a história.

  1. O povo brasileiro tem memória fraca e se esquece facilmente de seus heróis.
    Dentro de um país que preza a vulgaridade da música e a banalização do corpo, Roberto Minczuk é sim um grande herói pátrio. O que ele fez, foi nada mais nada menos, que tentar manter a qualidade da orquestra. A meu ver, músicos competentes e bem preparados, não deveriam temer o fio da navalha, certo?
    Caro MARLOS NOBRE, eu não concordo com nenhuma vírgula desta sua carta, até mesmo por que um mentor, como o senhor se julga tanto, aconselha seus iniciados e durante os momentos difíceis, mesmo se contrapondo a eles, lançam palavras de conforto e durante uma bate papo pessoal expõem sua opinião e não foi isso que eu li. Um estardalhaço em cima de outro só trás a tona aqueles que estavam mortos e procuram ressucitar-SE.
    Suas palavras de julgamento sentenciam sua pena. Afinal, define-se por ditador todo aquele que tem uma opinião contrária e se lança rispidamente diante de uma multidão para tentar impô-la. Portanto, se o Maestro Minczuk é um ditador o senhor também o é. Que haja mais sabedoria provida destes seus cabelos brancos.

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